sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA

Psicopedagogia Clínica
O atendimento psicopedagógico. O método e a técnica na clínica psicopedagógica. O diagnóstico e a intervenção psicopedagógica. Os distúrbios de aprendizagem. As dificuldades escolares como um sintoma complexo.


*O que é psicopedagogia?

Tem por objetivos compreender, estudar e pesquisar a aprendizagem nos aspectos relacionados com o desenvolvimento e/ou problemas da aprendizagem. A aprendizagem aqui é entendida como decorrente de uma construção, de processo, o qual implica em questionamento, hipóteses, reformulações, enfim, implica um dinamismo. A psicopedagogia tem como meta compreender a complexidade dos múltiplos fatores envolvidos neste processo. É a ciência que busca o diálogo entre a psicologia cognitiva, psicanálise, sociologia, lingüística, antropologia e filosofia, entre outros.
*Quem é o psicopedagogo?

É o detetive que busca pistas, procura selecioná-las, para propor intervenções e/ou ações capazes de desencadear um novo processo de aprendizagem no indivíduo.

*Qual o público alvo?

Crianças e adolescentes.

*Como o trabalho é realizado?

Para realizar o diagnóstico clínico, o psicopedagogo utiliza recursos como testes, desenhos, histórias, atividades pedagógicas, jogos, brinquedos, etc. Esses recursos se constituem num importante instrumento de linguagem e revelam dados sobre a nossa vida, que muitas vezes são segredos para nós mesmos. Com base nesses dados é elaborado o plano de intervenção.
A Psicopedagogia clínica procura compreender de forma global e integrada os processos cognitivos, emocionais, sociais, culturais, orgânicos e pedagógicos, que interferem na aprendizagem, a fim de possibilitar situações que resgatem o prazer de aprender em sua totalidade, incluindo a promoção da integração entre pais, professores, orientadores educacionais e demais especialistas que transitam no universo educacional do aluno.
Na escola o Psicopedagogo também utiliza instrumental especializado, sistema específico de avaliação e estratégias capazes de atender aos alunos em sua individualidade e de auxiliá-los em sua produção escolar e para além dela, colocando-os em contato com suas reações diante da tarefa e dos vínculos com o objeto do conhecimento. Dessa forma, resgata positivamente o ato de aprender.
Cabe ainda, ao Psicopedagogo assessorar a escola, alertando-a para o papel que lhe compete, seja reestruturando a atuação da própria instituição junto a alunos e professores, seja ainda redimensionando o processo de aquisição e incorporação do conhecimento dentro do espaço escolar, seja encaminhando alunos para outros profissionais. (BOSSA, 2000).

ESTUDO DE CASO
É a ação do trabalho Psicopedagógico, deve ser pensado e executado com seriedade, organizado e acompanhado com responsabilidade, pois, um diagnóstico errado pode comprometer a vida de uma pessoa. A análise dos dados é organizada através dos seguintes instrumentos do processo diagnóstico:
1) Queixa,
2) Entrevista com a família;
3) Anamnese,
4) Entrevista com o professor
5) Entrevista com a Equipe gestora
6) Atendimentos à Criança: Desenho da Família e do Par Educativo, Desenho Livre, Teste do Faz de Conta, Ditados, leituras e jogos e visitas;
7) Análise e Diagnóstico Psicopedagógico;
8) Devolutiva aos Pais
9) Devolutiva à Professora;
10) Devolutiva à Equipe Gestora
OBSERVAÇÃO: Cada passo deve ser seguido de registro em relatório o que no final de toda a análise, compõe o portifólio de toda ação desenvolvida pelo profissional seu diagnóstico e intervenção.
1- A Queixa:
É encaminhada por alguém, se pela escola sempre de forma escrita, pelo professor, ou Equipe Gestora, se pelos pais, esses devem procurar o profissional e relatar as dificuldades do aluno que devem ser registradas e arquivadas para acompanhamento

2- Entrevista com a Família e ANAMNESE
A anamnese trata do aluno objeto da ação Psicopedagógica. A família é quem vai fornecer todas as informações que servirão de base
no conhecimento do aluno, dados desde a gestação até a idade atual.
Muita atenção as informações e ao registro delas, pois serão fundamentais no Psicodiagnóstico.
Na entrevista com o responsável procure deixá-lo a vontade e crie um roteiro de informações e ainda, não sobrecarregue o responsável com muitas perguntas, se necessário divida seu roteiro em duas etapas.
Exemplo:
NOME:
QUANTOS FILHOS:
EM QUE ESCALA ESTÁ A CRIANÇA ATENDIDA:
MORA COM OS PAIS?
COMO FOI A GESTAÇÃO:
TIPO DE PARTO: TEMPO GESTACIONAL:
CHOROU AO NASCER?
NECESSITOU DE CUIDADOS ESPECIAIS?
QUAIS? Por quê?
Peso: altura:
A mãe sentiu o bebê se mexer na gestação? Quando?
possui alguma reação alérgica?
Faz algum tratamento? Qual?
Quando contrariado:
Toma algum medicamento:
Período de lactação:
Alimentação atual:
Como é seu sono:
Tem quarto próprio:
Quando Firmou a cabeça?
Quando engatinhou?
Quando andou sozinho?
Quanto ao controle dos esfíncteres:
Realiza alguma tarefa em casa?
Necessita de auxílio para realizar atividades como: tomar banho, se vestir, calçar e dar nós nos tênis e sapatos?
Escreve e realiza qualquer tarefa com qual mão?
Rói as unhas?
Chupa dedos ou chupeta?
Tem algum tique ou manias?
Aprendeu a andar de bicicleta? Quando?
A quem a criança obedece mais? Por quê?
Como se relaciona com os pais, irmãos e amigos?
Quando iniciou os estudos? É repetente?
Qual o percurso escolar?
Quanto à linguagem a criança usou suas primeiras palavras com significado com quantos anos?
Como se relaciona com crianças mais velhas?
E mais novas?
o ponto de vista emocional?
Informações adicionais:

3- ENTREVISTA COM A PROFESSORA: É muito importante para análise de como o aluno aprende, da prática pedagógica, e as observações e registros.
Qual matéria o aluno tem mais facilidade?
Qual tem mais dificuldade?
Desenvolve atividades em equipe?
Quais cores utiliza com mais freqüência?
Quais cores não gosta?
Onde se senta?
Como se relaciona com os colegas?
Como se relaciona com a professora?
Fala sobre sua família?
Qual a pratica pedagógica da professora?
Quais as estratégias que utiliza em sala?
Quais os recursos?
Informações Complementares:
4) Entrevista com a Equipe Gestora
Localização da escola
Recursos dispostos aos professores e alunos
Como é o prédio?
Como é a cozinha e dependências?
Merenda Escolar?
Recursos didáticos e pedagógicos?
Proposta pedagógica da escola
Acompanhamentos feitos aos alunos pela equipe
A escola favorece a competência leitora e Escritora?
Intervenções na realidade escolar
Acompanhamento familiar
Como se dá o processo de inclusão
Relacionamentos inter pessoais
Informações complementares

5) Atendimento à Criança
Aplicação das provas piagetianas e outras preparadas pelo Psicopedagogo, observando a necessidade de promover interação e de estabelecer um elo afetivo e de confiança:
Como se deu o primeiro contato
Observações percebidas pelo profissional
Observações sobre a atividade de desenho livre. Anote todas as explicações
Observe sua organização
Questione sobre a professora (relacionamento, atividades desenvolvidas, gostos, ...)
Questione sobre a escola, Equipe gestora, Espaços...

PROVAS PIAGETIANAS
Piaget em sua teoria criou estágios de desenvolvimento cognitivo. Para diagnosticar problemas de conservação ocorridos nos estágios pré-operatório e de operações concretas.
A teoria piagetiana ressalta a importância de entender a qualidade de pensamento, os argumentos do sujeito ma tentativa de compreender as transformações da realidade.
Aqui temos 6 provas principais
Não-conservação Quando é apresentada para a criança não-conservadora a primeira deformação da bolinha de massa de modelar, esta irá julgá-la maior, mantendo este julgamento mesmo que o experimentador insista sobre a dimensão negligenciada pela criança (ex. salsicha mais fina, mas mais comprida).
O problema da “volta empírica” é resolvido corretamente ou não pela criança.
Intermediário Oscila entre a conservação e não-conservação: numa mesma deformação a criança pode alternar seus julgamentos ora como iguais ou diferentes; faz julgamentos de conservação e não-conservação alternada nas diversas deformações; e pode apresentar alternância de julgamentos quando é contra-argumentada pelo entrevistador.
As justificativas da criança são pouco explícitas e incompletas.
O problema da “volta empírica” é resolvido corretamente pela criança.
Conservação As quantidades são sempre julgadas iguais, usando o argumento de “identidade”, de “reversibilidade”, ou de “compensação”.
Os julgamentos de conservação se mantêm apesar das contra-argumentações.
LEMBRETE: Durante a aplicação da prova deve haver sempre um momento de confronto, em que é feita a transformação da realidade na frente da criança. a fim de observamos de ela entendeu o processo de conservação de números, ou fica apenas no aspecto visual dos objetos.

Para o Kit
1. Faça uma caixa bem bonita, pode ser de papelão ou de madeira.
1. Conservação de números
Material: 11 círculos pequenos Vermelhos e 11 Círculos azuis (pode ser tampinha de garrafa, EVA, papelão...)

A criança recebera um saquinho com 22 fichas, explicamos a ela que as fichas estavam divididas em dois grupos, um grupo de ficha azuis e outro de ficha vermelha. não deixar explicita, em momento algum, a quantidade de ficha A criança deve, no decorre da aplicação da prova, contar a quantidade, se julgasse necessário.
Montar uma fileira horizontalmente com as fichas azuis e pedir a elas que montem uma fileira igual a nossa. Perguntar se há mais azuis ou mais vermelhas.
Confronto: A transformação será feita na frente da criança, ampliando o espaço entre as fichas azuis, perguntar novamente se hás mais fichas azuis ou mais fichas vermelhas.

2. conservação da Matéria
Material: Massa de modelas de duas cores (Compre uma caixa de modelar, pois para essa prova, usou uma vez, não pode usar novamente, pela questão do visual)

A criança deve perceber que a mudança de formato do objeto não interfere na quantidade de matéria do qual ele é composto.
Apresentar uma caixa de massinha de modelar com seis unidades. Retirar da caixa e mostrar às crianças que todas eram do mesmo tamanho. Pegar uma massinha amarela e outra vermelha (ou outra cor) e fazer duas bolinhas iguais. Em seguida, perguntar à criança em qual das duas bolinhas elas acham que há mais massinha.
Confronto: Realizar a transformação, na frente das crianças: pegar a bolinha amarela e fazer no formato de bolinha. Perguntamos se há mais massinha na bolinha vermelha ou na cobrinha amarela.
Verificar se as crianças compreendem a prova de conservação da matéria, e as transformações ocorridas perante seus olhares, como acompanharão o processo de transformação.

3. Conservação de Área

Material: 2 pranchas verdes retangulares de 20x25cm (pode ser EVA, papelão pintão, papel cartão...), 8 quadrados vermelhos de 4x4 e 2 vaquinhas (EVA, cartolina, biscuit, de plástico...).

Colocar diante das crianças duas placas para representar pastos. Dar a elas duas vaquinhas do mesmo material. Explicar que elas devem colocar as vaquinhas nos pastos. Pegar dois quadrados exatamente do mesmo tamanho para representa a moita de capim que a vaquinha iria comer. Distribuir uma moita de capim em cada pasto. Perguntar em qual dos dois pastos há mais capim.
Confronto: Pegar mais dois quadrados do mesmo tamanho e distribuir da seguinte forma: no pastor da esquerda colocar as moitas lado a lado no sentido vertical e no pasto da direita as duas separadas horizontalmente. Perguntar em qual há mais capim.


4. Conservação de líquidos

Material: Copo de vidro (um copo transparente)

Pegar dois copos cilíndrico do mesmo tamanho, pedir a criança que nos ajude a medir a quantidade de água, de forma que fiquem igual nos dois copos.
Depois de colar a água na mesma altura nos dois copos, perguntar em qual deles há mais água.
Confronto: Pegar um copo alto e fino, transportar água de um dos copos iniciais para esse, em seguida interrogar em qual dos copos há mais água.
As crianças que responderem o copo alto e fino ainda não conseguiram estabelecer a equivalência entre os líquidos dos recipientes, o raciocino foi baseado em aspectos visuais.

5. Seriação de palitos.

Material: conjunto de 10 palitos com tamanhos diferentes (palito de sorvete)
"A seriação consiste na capacidade de organizar mentalmente um conjunto de elementos em ordem crescente ou decrescente de tamanho, peso ou volume." (Wadsworthm 1996)

A criança recebera palitos de diferentes tamanhos, deverão arrumá-los de menor para o maior como uma escadinha, todos juntos.

6. Inclusão de classe (esse é o mais difícil se vc errar uma parte vc acaba confundido a criança e não alcançado seu objetivo, já tive essa experiência)

Material: 10 margaridas (EVA, desenho, papelão, papel cartão), 3 rosas, 10 coelhos

O material apresentado a criança consiste em um saquinho contendo varias flores e coelhos. Explicar que as flores estavam dividis em dois grupos: um de flores chamadas margaridas e outro de flores chamadas rosa. Colocamos cinco margaridas lado a lado e, na fileira abaixo, três rosas lado a lado. Indagamos: Há mais flores, mais rosas ou mais margaridas?
Depois da resposta, procure através de questionamento conhecer melhor o pensamento da criança.

A questão seguinte será apresentada desta forma: Se nos tirarmos uma rosa, ficaremos com menos flores, menos rosas ou menos margaridas?

Pegar os 10 coelhos que estavam dentro do saquinho com as flores e colocar numa mesma fileira lado a lado, logo em abaixo das rosas. Formular uma nova questão: Há mais flores, mais rosas, mais margaridas ou mais animais?

Você vai avaliar a linha de pensamento da criança, por isso perguntar o porquê da resposta.

6) Psicodiagnóstico
O diagnóstico Psicopedagógico é um processo sistêmico que tem um caráter dialético, e busca entender causas, a partir de uma sintomatologia, que leva às intervenções pertinentes a fim de produzir o equilíbrio do sujeito em análise ou da instituição pesquisada. O diagnóstico Psicopedagógico se reveste de plasticidade e reversibilidade já que pode ser revisado no contínuo do seu movimento. As intervenções se dão a partir de uma postura investigadora do psicopedagogo seja na clínica ou na instituição.
Ao entrar na escola a criança se depara com conceitos e estruturas que até o momento não tinham lhe sido exigidos. Ao realizar as tarefas propostas podem surgir, por diversos motivos, a presença de alguma dificuldade que não implica necessariamente em um transtorno.
Essas dificuldades podem ser: problemas anteriores à vida escolar; problemas na proposta pedagógica; capacitação do professor; problemas familiares, emocionais ou déficits cognitivos, entre outros. Nenhum fator específico é a causa do problema, pode ter origens diversas ou ser uma combinação de vários fatores.
Quando tudo estiver de acordo e a criança só não aprende na escola devemos fazer um diagnóstico institucional para verificar quais problemas estão comprometendo o êxito do aluno. Muitas vezes o professor não percebe que a sua maneira de ensinar não é a mais apropriada para o aluno aprender. O professor preso a métodos ou à proposta pedagógica da escola, sem condições de se atualizar ou mesmo resistente às mudanças não percebe que está no caminho errado e acaba por não rever a sua prática tornando-a incoerente e fazendo assim, sofrer o aluno.

O Primeiro Contato na Consulta
Sintoma: À medida que a primeira entrevista se desenvolve poderemos perceber se é realmente um sintoma (aquilo que o consultante traz como motivo manifesto da consulta), do ponto de vista clínico, ou se está somente encobrindo outros. O que ocorre comumente é que o motivo latente não aflora no início porque, geralmente, angustia muito e permanece no inconsciente.
Podemos ter diferentes motivos de consulta manifestos dentro de um mesmo caso.
Da mesma forma, quanto maior o tempo transcorrido entre o aparecimento da sintomatologia até o momento em que se concretiza a consulta, maior a nossa suspeita de que exista outro motivo latente, que foi o desencadeante para realizar a consulta. Certamente, o problema foi ignorado até esse momento, mas algo ocorreu que os fez tomar a decisão de consultar. É provável que fosse “egossintônico” para a família, mas que algo tenha provocado a ruptura desse “equilíbrio”.
Fantasias de doença e de cura:
Há uma fantasia de doença em cada um dos pais, no paciente e no profissional que escuta o que é relatado. Estas fantasias nem sempre coincidem. Detectar isto é importante porque nos informa que as resistências são muitas.
Os dados (destas fantasias) alertará o terapeuta em relação ao enquadre de sua tarefa, e a ser muito cauteloso na entrevista final para ajudar aos pais de forma que revejam a sua concepção de vida, da doença e da cura.
Madeleine Baranger enfatizou o conceito de fantasia de análise que vai se desenvolvendo ao longo do tratamento. Este conceito é importante porque fala da fantasia de doença com um núcleo enquistado com o qual a pessoa mantém um determinado tipo de relação; é algo que está ali, dentro dela; é algo de si mesmo; é algo que é sentido como egodistônico (do contrário não seria fantasia de doença) e que exerce uma enorme influência sobre si mesmo (self) e com o qual existe um determinado tipo de vínculo. É isto o que vai se modificando no decorrer do tratamento psicanalítico, até chegar ao ponto em que essa espécie de núcleo enquistado deixa de sê-lo. Transforma-se no ponto central da análise, mas, mesmo tornando-se mais frágil e menos perigoso, ficará sempre um resto irredutível à análise (algo assim como um ponto cego), com o qual manteremos relações mais permeáveis e maduras. Ou seja, este núcleo se tornará cada vez menos patológico em si mesmo, no vínculo que o “self” mantém com ele e nos efeitos (de sua presença e desse vínculo) no resto da personalidade. É muito importante estudar o material dos testes e das entrevistas, tentando descobrir estas fantasias.
É importante que durante a primeira entrevista, além de explicitar o sintoma que o paciente traz, e as suas fantasias de doença e cura, tentemos obter uma história ou novela familiar. Os dados cronológicos exatos são importantes, mas mais importante ainda é a versão que os pais ou o paciente trazem sobre essa história. Isto significa desvendar a história do sintoma em torno do qual vai se entrelaçando a história d paciente e de sua família.
O sintoma ou os sintomas trazidos como motivo da consulta deve ser colocado dentro de um contexto evolutivo, de forma a não serem superdimensionados e para prever a sua pêra através de terapia ou não.
O sintoma apresenta:
1. Um aspecto fenomenológico.
2. Um aspecto dinâmico. Mostra e esconde ao mesmo tempo um desejo inconsciente que entra em oposição com uma proibição do superego, ou seja, um conflito que é resolvido parcialmente pelo ego evitando fobicamente a situação angustiante.
3. Em todo sintoma há um benefício secundário: através de seus medos exige luz e companhia, que podem funcionar como interferência para a intimidade dos pais.
4. Esta análise, feita a nível individual, deve se estender ao nível familiar. O sintoma está expressando alguma coisa (algo não dito) dentro do contexto familiar. Por exemplo: fobia à escuridão seria explicado pelo incentivo do desejo edípico da criança. Este enfoque do sintoma dentro de um contexto da situação familiar faz com que em alguns casos se opte por uma terapia vincular ou familiar ou, ao menos, por uma orientação psicológica aos pais, paralela ao tratamento individual do filho para que consiga superar o problema.
5. Todo sintoma implica fracasso ou rompimento do equilíbrio entre as séries complementares. É sempre bom lembrar-se do gráfico freudiano: herança e constituição + história prévia real ou fantasiada + situação desencadeante = conflito interno → angústia → defesas → neurose → sintoma
O sintoma, como mostrado por Freud, inclui sempre o indivíduo e o outro. O sintoma está no lugar de uma palavra que falta, ele vem como máscara ou palavra fantasiada. A mãe neste sintoma é participante. O sintoma então se desenvolve com outro e para outro.
O primeiro contato, assim feito, nos dá uma imagem dos pais do paciente, conforme ele nos foi enviado, por que motivo, e segundo as características de seu primeiro vínculo conosco. Assim, por exemplo, respeitar o horário marcado, ligar na hora combinada, implica desde o início uma atitude de respeito com o profissional. As consultas canceladas repetidamente não dão uma imagem positiva do paciente ou daquele que consulta, pois a atitude é evidentemente bastante fóbica. Não só os fóbicos podem ter este comportamento; também pode ser psicótico ou até uma atitude inconsciente de preservação, quando o paciente prevê que iniciar uma consulta vai ser algo muito mobilizador e talvez desestruturante.

O TRANSTORNO OU DISTÚRBIO DE APRENDIZAGEM é um conjunto de sinais ou sintomas que provocam uma série de perturbações no aprender da criança, interferindo no processo de aquisição e manutenção de informações de uma forma acentuada. O transtorno corresponde a uma inabilidade específica em uma das áreas como a leitura, a escrita, a matemática, em indivíduos considerados capazes intelectualmente.
O manual CID-10 apresenta três tipos básicos de transtornos específicos: o Transtorno da Leitura; o Transtorno da Escrita e o Transtorno da Matemática.
→ Transtorno da Leitura - DISLEXIA: é uma dificuldade específica em compreender as palavras escritas.
→ Transtorno da Escrita - DISGRAFIA e/ou DISORTOGRAFIA: é um transtorno de ortografia e caligrafia, geralmente combinado à dificuldade em compor textos escritos por apresentar erros de gramática, pontuação, má organização dos parágrafos, múltiplos erros ortográficos ou fraca caligrafia.
→ Transtorno da Matemática - DISCALCULIA: a criança apresenta uma inabilidade em adquirir conceitos matemáticos e a utilizá-los na vida diária.
O diagnóstico precoce do distúrbio de aprendizagem é fundamental para a superação desta dificuldade. Desta forma se verifica a área mais comprometida e se encaminha para a abordagem terapêutica mais adequada.
Segundo Pamplona (1997, p. 30; 31) baseando-se nas pesquisas as causas apontadas como responsáveis pelas dificuldades escolares e pelos altos índices de evasão e reprovação escolar são:
- falta de estimulação adequada nos pré-requisitos necessários à alfabetização;
- métodos de ensino inadequados;
- problemas emocionais;
- falta de maturidade para iniciar o processo de alfabetização
- dislexia




DISLEXIA

A Dislexia apresenta-se nos momentos iniciais de aprendizagem da leitura e da escrita.
É uma dificuldade específica nos processamentos da linguagem para reconhecer, reproduzir, identificar, associar e ordenar os sons e as formas das letras, organizando-as corretamente.
A Dislexia não é uma patologia, ou seja, não é uma doença.
CAUSAS: Genéticas, Neurobiológicas.
A história familiar é um dos fatores de risco mais importantes: 23 a 65% das crianças disléxicas têm um parente com dislexia. (Scar Boroug, 1990).
Entre irmãos a taxa é de 40%.
Entre pais e filhos, de 27 a 49%.
Cerca de 20% das crianças do mundo são disléxicas.
A criança disléxica tende a desenvolver depressão (pela pressão que sofre); ansiedade; baixa auto-estima e falta de atenção.

ALGUNS COMPORTAMENTOS E CARACTERÍSTICAS:
• Imaturidade;
• Desempenho inconstante;
• Demora na aquisição da leitura e da escrita;
• Lentidão nas tarefas de leitura e escrita, mas não nas tarefas orais;
• Dificuldade com os sons das palavras e, conseqüentemente com a soletração;
• Escrita incorreta, com trocas, omissões, junções e aglutinações de fonemas;
• Dificuldade em associar o som ao símbolo;
• Dificuldade com a rima e a aliteração;
• Discrepância entre as realizações acadêmicas, as habilidades lingüísticas e o potencial cognitivo;
• Dificuldade em associações;
• Dificuldade para organização seqüencial;
• Dificuldade em nomear objetos, tarefas...;
• Dificuldade com a organização temporal (hora), espaço (antes e depois) e direção (direita e esquerda);
• Dificuldade em memorizar números de telefone, mensagens, fazer anotações ou efetuar alguma tarefa que sobrecarregue a memória imediata;
• Dificuldade em organizar as suas tarefas;
• Dificuldade com cálculos mentais;
• Desconforto ao tomar notas e/ou relutância para escrever;
• Persistência no mesmo erro, embora conte com apoio do profissional;
• Fraco desenvolvimento da atenção;
• Atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem;
• Atraso no desenvolvimento visual;
• Dificuldade em aprender rimas e canções;
• Falta de coordenação motora fina e ampla;
• Dificuldades com quebra-cabeça;
• Falta de interesse por livros e impressos;
• Dificuldade em aprender uma segunda língua


COMO TRABALHAR COM O DISLÉXICO:
→ Capacitar os professores para trabalhar com a diversidade e possibilitar a inclusão;
→ Estímulos são fundamentais para se elevar a auto-estima, levá-la a superação das dificuldades e exige muita determinação pessoal;
→ Não tem cura. O tratamento visa potencializar as capacidades e minimizar as dificuldades;
→ A estimulação multisensorial é muito utilizada;
→ O ambiente deve ser facilitador;
→ A vocalização ou oralização é uma forma de compensar a dificuldade;
→ Desenvolver a consciência fonológica tem apresentado excelentes resultados;
→ Antes de introduzir textos complexos, verificar se o aluno já entende os menos complexos;
→ O professor deve estar atento aos erros e não corrigir pelo aluno. Deve sentar, explicar novamente, chamar para sentar mais perto. Sublinhar os erros e fazer reestruturar o texto;
→ Se o Disléxico for bem atendido com certeza terá progressos;
→ A repetência de alunos que já reprovaram diversas vezes deve ser vista com bom senso pelos educadores. Cada caso é um caso;
→ Quanto mais cedo se fizer o diagnóstico melhor será o tratamento.

Para um atendimento mais eficaz devemos verificar o tipo de dislexia que o aluno apresenta:
U• Dislexia Visual: deficiência na percepção visual e na coordenação visomotora – desenvolver a leitura do todo para as mínimas partes;
• Dislexia Auditiva: deficiência na percepção auditiva e na memória auditiva – desenvolver a leitura fonológica – das partes para o todo – usada para a leitura de palavras novas;
• Dislexia Mista ou Integrada: é a mais comum – uma integração das duas
7) DEVOLUTIVA
Essa é a etapa que encerra sua atividade diagnóstica, é necessário que todos compreendam o trabalho desenvolvido e que se apresente um resultado satisfatório, coeso e ético, fazendo as intervenções necessárias para que o aluno possa ter sucesso em seu processo de aprendizagem.
Não tenha vergonha nem receio de dizer onde está o erro, pois você tem nas mãos a vida de uma criança que depende do resultado do seu trabalho.
De a devolutiva a todos os envolvidos no processo, bem como o que seria o remédio para atingir a cura da criança atendida, caso tenha duvidas, refaça ou peça ajuda, antes de dar um diagnóstico errado.

MOTIVANDO A APRENDIZAGEM
Aprender é adquirir novas atitudes. Tudo o que fazemos tem um objetivo ou um motivo. Motivo é tudo que nos move, para determinado fim, ou seja, motivo é a força interior que leva o homem a agir.
Na escola tradicional os alunos prestavam atenção, estudavam, só para saber, ter cultura, decorando tudo. Já na escola nova ou renovada, a motivação é que passa a ser o centro do processo de aprendizagem.
Motivação é algo que leva os alunos a agirem por vontade própria: ela inflama a imaginação, excita e põe em evidência as fontes de energia intelectual, inspiram o aluno a ter vontade de agir, de progredir. Em suma motivar é despertar o interesse e o esforço do aluno. É fazer o estudante “desejar” aprender aquilo que ele precisa aprender.
Para a didática renovada a motivação é de fundamental importância por que:
- aprendizagem exige esforço, - esforço exige interesse; e interesse é um estado emocional, um desejo, uma atração do indivíduo para o objeto.
Motivação é a soma do motivo com o incentivo. Incentivo é o processo externo que vai despertar o “motivo” no indivíduo. Incentivo é ação de fora para dentro. Motivo é reação, neste caso de dentro para fora.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, L.M.S., A História da Pisicopedagogia contou também com Visca. Disponível em www.pisicopedagogia.pro.br , acessado em 25/7/2005.
BOSSA, Nadia Aparecida. A Pisicopedagogia no Brasil: Contribuições a partir da Prática. Pág 67 ano 2000.
______,A Escola Necessária para o presente com vista ao futuro. Disponível em www.pisicopedagogia.pro.br , acessado em 17/7/2005.
______,A Dificuldades de Aprendizagem: O que são, Como trata-las?.Porto Alegre, Artes Médicas Sul, 2000.
PAIN, S. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.
VISCA, J. Clínica psicopedagógica: Epistemologia convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
______. Pisicopedagogia: Novas Contribuições; Organização e Tradução Andréa Morais, Maria Izabel Guimarães – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.
______. El Diagnostico: Operatorio em la Practica Pisicopedagogica. Bueno Aires, Ag. Serv, G., 1995.
______. Técnicas Proyetivas Pisicopedagogicas. Bueno Aires, Ag. Serv, G., 1995.
SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e realidade escolar: o problema escolar de aprendizagem. 10. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
WEISS, Maria Lúcia Leme. Psicopedagogia clínica: Uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.